Viajar de avião é sinônimo de praticidade e agilidade, principalmente quando se trata de percorrer longas distâncias em pouco tempo. Entretanto, para quem já teve alguma experiência de dor de dente a bordo, a memória pode não ser tão agradável. Afinal, uma dor repentina pode estragar até mesmo os planos mais bem organizados, atrapalhar a concentração e comprometer o descanso ou a diversão esperada. De acordo com estudos sobre barotrauma (International Dental Journal, 2018), as variações de pressão atmosférica dentro da cabine podem agravar problemas dentários latentes, fazendo com que pequenas fissuras ou inflamações na polpa dentária se tornem verdadeiros tormentos no ar.
Para que você possa evitar esse tipo de contratempo e saiba o que fazer caso ele surja no meio do voo, reunimos, a seguir, as principais orientações e cuidados que podem ajudar a manter seu sorriso tranquilo, mesmo acima das nuvens.
Por que a dor de dente pode ser pior durante o voo?
- Variação de pressão atmosférica: Dentro da cabine do avião, a pressão é menor em comparação ao nível do mar. Em condições normais, esse fator passa despercebido pela maioria dos passageiros, mas, em casos de infecções ou inflamações dentárias, a diferença de pressão pode agravar o desconforto (American Dental Association, 2020).
- Baixa umidade do ar: O ar pressurizado no interior das aeronaves costuma ser mais seco. Dessa forma, pessoas com predisposição a problemas de gengiva ou com restaurações já desgastadas podem sentir mais sensibilidade ou dor.
- Temperatura reduzida: Voos mais longos, sobretudo em rotas internacionais, costumam manter a cabine em temperaturas relativamente baixas. O ar frio pode intensificar a sensibilidade de dentes que já apresentam algum tipo de comprometimento.
- Quantidade de oxigênio disponível: Em função da pressurização, a quantidade de oxigênio no ar dentro do avião é menor do que a que estamos habituados em solo. Esse fator, somado aos anteriores, pode contribuir para um estresse maior no tecido nervoso do dente, provocando dor mais intensa ou de início repentino (Barodontalgia).
Checkup pré-viagem: a melhor forma de prevenção
- Avaliação detalhada: Marcar uma consulta com seu cirurgião-dentista antes de viagens longas é uma das principais recomendações para prevenir surpresas desagradáveis. Um checkup completo inclui radiografia, exame clínico e avaliação de restaurações antigas ou de possível cárie em estágio inicial (Sobotta et al., 2019).
- Tratamento de focos de infecção: Caso seja identificada alguma inflamação ou infecção na polpa dentária (polpite) ou na gengiva (gengivite, periodontite), o tratamento prévio é fundamental. Isso evita que o problema se agrave e provoque dor em momentos inoportunos.
- Análise das próteses e restaurações: Próteses mal adaptadas, restaurações desgastadas ou infiltrações pequenas podem passar despercebidas no dia a dia. Entretanto, a mudança brusca de pressão pode fazê-las se manifestar em forma de dor intensa.
- Orientação sobre higiene: O profissional ainda pode orientar o paciente a respeito de produtos específicos para cuidados bucais em ambientes com ar seco ou baixa umidade, indicando, por exemplo, enxaguantes sem álcool ou cremes dentais para dentes sensíveis, conforme a necessidade.
O que fazer se a dor surgir durante o voo?
- Tenha um analgésico por perto: Caso seja pego desprevenido, o uso de um analgésico de venda livre pode ajudar a controlar a dor. Consulte seu cirurgião-dentista com antecedência para saber qual medicação é mais indicada e em que dosagem (Ferreira & Santos, 2021). Em geral, recomenda-se o intervalo de quatro horas entre as doses, mas siga sempre as recomendações prescritas.
- Mantenha a calma: O nervosismo e o estresse podem aumentar a sensibilidade à dor. Tentar relaxar e realizar exercícios de respiração profunda pode ajudar a amenizar o desconforto, além de contribuir para a oxigenação do corpo durante o voo.
- Prefira alimentos frios ou mornos: Bebidas e alimentos quentes podem intensificar a sensibilidade dentária e agravar a dor. Já as opções mais frias ou de temperatura ambiente, como água gelada ou sucos naturais, costumam ser menos agressivas ao dente sensível.
- Evite bochechos sem indicação: Embora possa parecer tentador recorrer a um antisséptico bucal, o uso de bochechos específicos sem saber o diagnóstico pode mascarar sintomas importantes ou até irritar ainda mais a mucosa (Lima et al., 2020). Na dúvida, espere até poder consultar um profissional para ter a indicação correta.
- Procure atendimento assim que possível: Ao aterrissar, dê prioridade a uma consulta com seu cirurgião-dentista para avaliação da causa da dor. Quanto mais rápido for o diagnóstico, maiores as chances de um tratamento eficaz e menos invasivo.
Dicas extras para um voo tranquilo
- Hidratação constante: Tenha sempre em mãos água ou sucos naturais para beber em pequenos goles. A boa hidratação ajuda a manter a boca menos seca e reduz a chance de dor ou irritação.
- Kit de higiene bucal: Leve na bagagem de mão escova de dentes, creme dental adequado e fio dental. Assim, após as refeições servidas no avião, você pode realizar a limpeza e evitar o acúmulo de resíduos que podem causar sensibilidade ou dor.
- Evite bebidas gaseificadas em excesso: Refrigerantes e outras bebidas com gás podem aumentar a sensação de inchaço e desconforto geral, o que pode somar-se à eventual dor de dente, piorando o quadro.
- Apoio da tripulação: Se a dor for intensa a ponto de comprometer seu bem-estar, não hesite em informar a tripulação. Eles podem fornecer gelo para compressas ou ajudar de outras maneiras a controlar momentaneamente o desconforto.
Como o dentista pode ajudar após a viagem
- Diagnóstico preciso: Ao retornar de viagem, consulte seu cirurgião-dentista para verificar a causa exata do problema. Radiografias e exames clínicos ajudarão a identificar se há cárie profunda, fissuras em restaurações ou polpa dental inflamada (Cunha et al., 2017).
- Tratamento resolutivo: Dependendo do diagnóstico, o tratamento pode variar de uma simples restauração ou ajuste de prótese até procedimentos de canal (endodônticos). Em alguns casos, é possível resolver o problema de forma rápida e definitiva.
- Prevenção para viagens futuras: Uma vez solucionado o problema, aproveite a oportunidade para traçar, junto com o profissional, um plano de prevenção para as próximas viagens. Medidas simples, como checkups semestrais e cuidados adicionais de higiene, podem fazer toda a diferença para evitar dores inoportunas no futuro.
Uma dor de dente a bordo pode, de fato, comprometer o descanso e a diversão de qualquer viagem, mas existem formas eficazes de prevenção e também medidas de controle emergenciais que podem ser adotadas em pleno voo. O checkup pré-viagem se destaca como um passo fundamental para identificar e tratar possíveis problemas dentários antes mesmo de você embarcar. Caso a dor apareça durante o trajeto, manter a calma, ingerir líquidos frios e buscar usar analgésicos (quando recomendados pelo cirurgião-dentista) são ações que podem amenizar o desconforto até que seja possível recorrer ao atendimento profissional.
Lembre-se de que, em qualquer situação, a avaliação de um cirurgião-dentista é indispensável para um diagnóstico correto e indicação do tratamento adequado.
